10 novembro, 2020

E quando falta chão? Que reflexões precisamos fazer agora?

Contribuições dos povos originários, nas palavras de Ailton Krenak, para refletirmos sobre o momento que estamos vivenciando

Há algum tempo vimos vendo em nossas atividades como a atual pandemia de Covid-19 pode ser compreendida como uma resposta do planeta às nossas ações em relação ao ele, não é mesmo?
Neste mês de novembro, em que muito falaremos de diversidade, queremos chamar a atenção também para muito do que os povos nativos de nosso país têm a nos dizer sobre as suas formas de ser e estar no mundo. Certamente eles têm muito a nos ensinar.  Hoje, escolhemos como referência Ailton Krenak.


Quem é Ailton Krenak? 
AILTON KRENAK nasceu em 1953. Ativista do movimento socioambiental e de defesa dos direitos indígenas, organizou a Aliança dos Povos da Floresta, que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas na Amazônia. É escritor. É também comendador da Ordem de Mérito Cultural da Presidência da República e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Faz parte do povo indígena Krenak, originário da região do Médio Rio Doce, em Minas Gerais.


Vamos ler, logo abaixo, um trecho de seu livro intitulado “A vida não é útil”, em que ele fala sobre o momento que estamos vivendo:


“... Foi impressionante, durante a pandemia, como aceitamos a convocatória para ficar em casa e fazer o distanciamento social. Salvo alguns excêntricos, todo mundo que pôde concordou com ela. Ora, se somos capazes de ouvir um comando desses, todos ao mesmo tempo, e permanecermos em casa, por que não seríamos capazes de ouvir o comando de parar de predar o planeta?  De parar de destruir os rios e florestas?  Esse é um valor transcendente.


Amigos que trabalham com história da filosofia e da tecnologia me disseram que o desvio dos humanos em seu sentimento de pertencimento a totalidade da vida se deu quando descobriram que podiam se apropriar de uma técnica. Atuar sobre a terra, sobre a água, sobre o vento, sobre o fogo, até sobre as tempestades que antes interpretavam como sendo fruto de um poder sobrenatural. Nas tradições que eu compartilho, não existe poder sobrenatural. Todo poder é natural, e nós participamos dele. Os xamãs participam dele. Os pajés, em suas diferentes cosmogonias, saem daqui e vão a outros lugares no Cosmos. (...) Estão aparecendo muitas sugestões de mundos, sempre acompanhadas da ideia de que estão em choque. Eu não percebo esse momento que estamos vivendo como uma situação-limite, acho que o que estamos passando é uma espécie de ajuste de foco no qual temos a oportunidade de decidir se queremos ou não apertar o botão da nossa auto-extinção, mas todo o resto da Terra vai continuar existindo.


Não consigo nos imaginar separados da natureza. A gente pode até se distinguir dela na cabeça, mas não como organismo. A possibilidade de sobrevivermos com esse corpo em Marte ou em qualquer outro planeta vai depender de um aparato tão complexo que será mais fácil arrumar mus máscaras e respiradores e continuarmos aqui (E olha que não estamos dando conta nem disso) ponto final essas incríveis tecnologias que a gente utiliza hoje, que nos põe em conexão, tem uma boa dose de ilusão. São como um troféu que a ciência e o conhecimento nos deram e que usamos para justificar o rastro que deixamos na terra.


O planeta está nos dizendo: "Vocês piraram, se esqueceram quem são e agora estão perdidos achando que conquistaram algo com os brinquedos de vocês". Pois a verdade é que tudo que a técnica nos deu foram brinquedos . O mais sofisticado que conseguimos é esse que bota a gente no espaço; e também o mais caro. Um brinquedo que só dá para uns trinta, quarenta caras brincarem. E, claro, tem uns bilionários querendo brincar disso. (...) O que é para ser celebrado no fato de que podemos falar numa Live para 3 mil ou 4 mil pessoas por um aparelhinho que é produto de uma civilização que está comendo a Terra para fazer brinquedos? Só que a Terra é um organismo muito maior que nós, muito mais sábio e poderoso, e nós, seu brinquedo mais inútil. A terra pode nos desligar tirando nosso ar, não precisa nem fazer barulho.


(...) Ou você ouve a voz de todos os outros seres que habitam o planeta junto com você, ou faz guerra contra a vida na Terra.”


Assista também ao vídeo abaixo, disponível no canal 20ideias no youtube. O vìdeo é de 2012, veja como já nos alertava para coisas que estão sendo amplamente discutidas hoje:


Agora que você leu o texto e viu o vídeo, converse com sua família sobre o assunto e responda às questões abaixo:


Material Complementar:



Referências:
https://www.companhiadasletras.com.br/autor.php?codigo=01412
Krenak, Ailton. A vida não é útil. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.

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