Tudo começou na China, por volta de 1796, quando foram observados sobreviventes de um surto da varíola, uma das doenças mais temidas no mundo no século XVIII. Esses sobreviventes ficaram imunes a novos contágios. O inglês Edward Jenner estudou o caso e descobriu que a imunidade surgiu porque essas pessoas tiveram contato anterior com varíola bovina. No mesmo ano, ele desenvolveu a primeira vacina conhecida, injetando e imunizando um garoto de oito anos com um soro composto por varíola bovina.
Em pouco tempo o processo passou a ser adotado mundialmente. Em 1800, a Marinha britânica passou a utilizar a vacinação.
Em 1885, Louis Pasteur usou o mesmo princípio para criar a vacina contra a raiva animal, até então facilmente transmitida para humanos. A partir daí, surgiram vários outros tipos, mas uma das mais importantes veio apenas em 1960, criada por Albert Sabin: a gotinha contra a paralisia infantil.
O Brasil começou a usar vacinas em 1804 em importação feita pelo marechal Caldeira Brand Pontes, o marquês de Barbacena. Segundo documentos oficiais e estudos históricos, o transporte do vírus vacinal de Lisboa para a Bahia foi feito a partir do contágio de um negro escravizado para o outro.
As cobaias eram sete crianças da propriedade do marquês, acompanhadas ao longo da viagem por um médico que aprendeu a técnica da vacinação e as infectou sucessivamente. No ano seguinte, algumas províncias adotaram a vacinação obrigatória para a população a partir de institutos vacínicos.
A REVOLTA DA VACINA - POLITIZAÇÃO E DESINFORMAÇÃO
Em 1904, o Rio de Janeiro sofria com a falta de saneamento básico, apresentando ruas cheias de lixo e tratamento de água e de esgoto ineficientes. Esse quadro desencadeou uma série de epidemias, inclusive de varíola.
Nesse contexto, para reduzir o número de doenças, o médico e sanitarista Oswaldo Cruz iniciou uma série de ações, como a remoção do lixo e tentativas de matar os mosquitos causadores da febre amarela. A varíola era outro problema, o qual o médico pretendia resolver com a chamada Lei da Vacina Obrigatória.
A obrigatoriedade da vacinação imposta por Oswaldo Cruz, a politização do tema e a falta de informação sobre a eficácia e segurança das vacinas causaram grande descontentamento na população, que já estava sofrendo com a reestruturação da cidade.
Por essa razão, várias pessoas saíram às ruas em protesto contra a vacinação obrigatória. O Rio de Janeiro vivenciou grandes confrontos entre a população e as forças da polícia e do exército. Esses confrontos, que ocorreram no período de 10 a 16 de novembro de 1904, causaram a morte de um grande número de pessoas. Essa semana de tensão tornou-se o maior motim da história do Rio, configurando aquilo que ficou conhecido como Revolta da Vacina.
A Revolta da Vacina, charge de Leônidas, publicada em 29 de outubro de 1904 na edição 111 da revista O Malho.
No dia 16 de novembro, o governo revogou a obrigatoriedade da vacina, e a polícia prendeu várias pessoas que estavam nas ruas do Rio de Janeiro. De acordo com dados do Centro Cultural do Ministério da Saúde, a revolta deixou um saldo de 30 mortos, 110 feridos e 945 presos, dos quais 461 foram deportados para o Acre.
OS MOVIMENTOS ANTIVACINA
Já no século XIX, nos países que implementaram a vacinação como Estados Unidos e Inglaterra, surgiram grupos antivacinas que normalmente:
Diziam que as vacinas fariam você ficar doente e culpavam o despotismo médico, “uma coisa dura, materialista, infiel” pela criação dos atos de vacinação.
Alertavam sobre produtos químicos venenosos em vacinas, ou seja, o ácido carbólico na vacina contra varíola.
Diziam que a vacina de varíola de Jenner não funcionava.
Indicavam práticas médicas alternativas, incluindo herbalistas, homeopatas e hidropatas, etc.
Usavam sua própria literatura (sem fundamentação alguma), para assustar as pessoas e afastá-las de vacinas.
Falavam que quem tomasse a vacina poderia experimentar o surgimento de características de um bovino, o crescimento de um chifre, casco e pelagem do animal.
No Brasil, a guerra política contra a vacinação aconteceu a partir da oposição, que veiculou uma série de inverdades sobre a vacina. Afirmavam que ela causava diferentes males à saúde, entre eles gangrena, epilepsia, meningite, tuberculose e sífilis, e também utilizava o discurso dos grupos antivacinação europeus e norte americanos.
Além desses falsos discursos, o Brasil ainda enfrentou a questão moral contra a vacinação. Percebendo que pessoas vacinadas mostravam os efeitos da proteção da imunização e não apresentavam as doenças e males mentirosamente propagados, os discursos contrários à vacina passaram a enfocar a violação do lar pelos agentes sanitários. Na época, Oswaldo Cruz coordenava uma ação de vacinação que era feita de casa em casa. As pessoas contrárias às vacinas passaram a dizer que a honra do trabalhador estava em perigo, pois suas esposas e filhas seriam forçadas a desnudar braços, coxas e talvez até as nádegas para os servidores da secretaria de Saúde Pública.
Charge adaptada para português | Reprodução da Internet
EFEITOS DO MOVIMENTO ANTIVACINA NO BRASIL
A campanha contra a vacinação levou o caos às ruas do Rio de Janeiro. Não derrubou o governo, mas foi eficiente em reduzir a cobertura vacinal da população. Entre maio e julho de 1904 o número de pessoas vacinadas mostrava-se numa curva ascendente, com cerca de 8.200 pessoas vacinadas em maio, e 23.021 em julho. Com a discussão sobre a obrigatoriedade da vacina e as disputas políticas derivadas do debate sobre a lei, em agosto o registro caiu para 6.036 vacinados. No final de outubro, dias antes da revolta, o registro era de apenas 1.138.
A IMPORTÂNCIA DA VACINA NOS DIAS ATUAIS
Em 1956 ocorreu o primeiro projeto de erradicação global de uma doença, patrocinado pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Quatro anos depois, a varíola já não era mais encontrada nos países industrializados, e uma organização sólida permitiu que em 1977 se estabelecesse o primeiro e único episódio de erradicação de uma doença infecciosa humana em escala planetária. Até hoje a vacinação em massa tem possibilitado o controle da disseminação de várias outras doenças infecciosas.
No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) tem trabalhado para erradicar e controlar doenças tais como, o tétano neonatal, formas graves da tuberculose, difteria, tétano acidental e coqueluche. Para tanto, realiza três campanhas fixas por ano contra a Poliomielite, Influenza e atualização da caderneta de vacinação focando os grupos prioritários.
O esforço para imunizar a população está dando resultados. O Brasil alcançou a erradicação da poliomielite e da varíola, e a eliminação da circulação do vírus autóctone do sarampo, desde 2000, e da rubéola, desde 2009. Também foi registrada queda acentuada nos casos e incidências das doenças imunopreveníveis, como as meningites por meningococo, difteria, tétano neonatal, entre outras.
Embora a grande maioria das pessoas ainda vacine seus filhos, grupos de crianças intencionalmente não vacinadas estão crescendo. E são esses grupos de crianças e adultos não vacinados que estão levando a um aumento de surtos de doenças preveníveis por vacinas que estão ficando mais difíceis de controlar.
Em pleno 2019, o “inesperado” aconteceu: fomos surpreendidos por um surto de Sarampo. Até o fim de outubro, o sarampo foi confirmado em 10.429 dos 49.613 casos suspeitos no Brasil.
De acordo com as experiências históricas e científicas, quem não se vacina não coloca apenas a própria saúde em risco, mas também a de seus familiares e outras pessoas com quem tem contato, além de contribuir para aumentar a circulação de doenças. Tomar vacinas é a melhor maneira de se proteger de uma variedade de doenças graves e de suas complicações, que podem até levar à morte.
Com base na leitura do texto e nos seus conhecimentos adquiridos, responda as questões em seu caderno. Quando retornarmos com as aulas presenciais, as atividades feitas serão consideradas.
Explique a técnica utilizada pelo inglês Edward Jenner no desenvolvimento da primeira vacina desenvolvida e utilizada contra a varíola.
Cite o contexto social e econômico do Rio de Janeiro em 1904, ano que desencadeou a Revolta da Vacina.
Que argumentos os movimentos antivacina utilizaram no Brasil para engrossar a campanha contra a vacina imposta pelo governo?
Você concorda com os movimentos que desacreditam na ciência e na eficácia das vacinas? Por quê?
Faça uma breve pesquisa e descreva os argumentos utilizados pelas pessoas que atualmente participam do movimento antivacina em relação ao Coronavírus.
Faça um gráfico de colunas considerando os dados apresentados no texto EFEITOS DO MOVIMENTO ANTIVACINA NO BRASIL. O gráfico deverá apresentar um título e a comparação da adesão à vacinação de acordo com os meses de 1904.
Referências:
VACINA é um marco na história da humanidade. Por quê? Ela tem o poder de erradicar doenças! SPDM.org.br, 2015. Disponível em: <https://www.spdm.org.br/saude/noticias/item/1728-a-vacina-e-um-marco-na-historia-da-humanidade-por-que?-ela-tem-o-poder-de-erradicar-doencas>. Acesso em 08 de fev. de 2021.
CONHEÇA a história das vacinas. BIO.Fiocruz, 2020. Disponível em <https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/Conheça a história das vacinasnoticias/1738-conheca-a-historia-das-vacinas>. Acesso em 08 de fev. de 2021.
POLITIZAÇÃO e desinformação insuflaram Revolta da Vacina em 1904. BATISTA Liz - ACERVO Estadão, 2020. Disponível em <http://m.acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,politizacao-e-desinformacao-insuflaram-revolta-da-vacina-em-1904,70003483614,0.htm>. Acesso em 08 de fev. de 2021.
IMPORTÂNCIA da vacinação (em todas as idades). PFIZER, 2020. Disponível em <https://www.pfizer.com.br/noticias/ultimas-noticias/importancia-da-vacinacao>. Acesso em 08 de fev. de 2021.